Neste início de abril, o tempo chuvoso castiga mesmo à noite. As chuvas batendo no parapeito das janelas e o sono por vezes teima em ir se confundir com a madrugada. O que fazer? Ligo a tevê como meio de me distrair e quem sabe meio esquecida volte a dormir.

Controle remoto à mão, salto de um canal a outro, até pairar em um no qual a apresentadora, alta, esguia, como que alojada em um vestido que se inicia nos ombros e termina nos joelhos, anuncia o grande tema da noite: bumbum.

O bumbum é a forma abrasileirada para a parte carnosa do corpo formada pelas nádegas. Aliás, a apresentadora já abriu o quadro dizendo desse que é o orgulho nacional: o bumbum feminino. Disse mais, que haveria um concurso para eleger a Miss bumbum.

No programa houve de um tudo. As candidatas desfilando charme e beleza, jurando que tudo ali era original, direto de fábrica; convidados destilando desconfiança quanto à veracidade do que afirmavam as candidatas... Teve, até, uma “reflexão” sobre qual o melhor concurso para os dias atuais, seria o Miss Bumbum ou o Miss Brasil? Houve quem argumentasse que o concurso Miss Bumbum mesmo não tendo toda a tradição do Miss Brasil é o que garante mais visibilidade às garotas.

O programa já começava a terminar quando a representante do concurso Miss Bumbum, afirmou, de forma muito segura, que não basta ganhar o concurso, uma garota bonita só terá chances reais de iniciar uma carreira e alcançar visibilidade se souber falar, se comunicar, dizer a que veio. Note-se aí a importância da comunicação, do bem falar, do dizer com conteúdo.

Que me perdoe Vinicius de Moraes... Beleza pode ser fundamental, mas tão efêmera ela o é...