Quebra cabeça
Todas as inquietações me vem à tona hoje como quem arranca cascas de machucados com as unhas e deixa sangrar uma ferida que nunca cicatriza. Viver nesta cidade é um martírio crônico. As ruas não me cabem. As pessoas me olham mas não me enxergam. Ninguém se olha, ninguém se vê, ninguém se sente de verdade. Eles nem sabem o que é sentir como eu sinto. E nunca saberão. Aquela inadequação teima em aparecer mais uma vez, ainda que eu tente expurgá-la como veneno. Algo sempre está fora de lugar. Mas a peça errada sou eu. O Chico disse que na reencarnação ninguém erra de endereço, mas sei que estou sobrando no quebra-cabeças desta cidade. Eu não me encaixo nela e ela não se encaixa em mim.
Iacoe Michaela
Enviado por Iacoe Michaela em 04/06/2017
Alterado em 21/12/2017
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