Dez Trovas
PRIMEIRA
Chamam às quadras de trovas,
Quando com o metro dileto
Têm, ao trazer boas-novas,
Em si um poema completo.
SEGUNDA
Silva o rebenque no arranque:
-- "Zurra burro! Relincha égua!"
Que importa que a mula manque?
Vou rosetar mais meia légua!...
TERCEIRA
Muitos dizem ser mentira
Isto de amar de verdade.
Mas quanto o peito delira
Não sabem nem a metade...
QUARTA​
Se nada vem por acaso,
Por que só me vens com a lua?
A saudade, em todo caso,
Ao meu lado continua.
QUINTA
Vez em quando me lamento
Das voltas que o mundo dá.
Volta e meia é sentimento
Algo bom em hora má.
SEXTA
Abro olhos a ver e olhar,
Ora raso; ora profundo.
Fecho olhos a imaginar
A imensa imagem do mundo.
SÉTIMA
A espera de quem alcança
Sempre é difícil momento.
Há quem chame de esperança
E outros de padecimento...
OITAVA
O dia tem tantas horas,
Que às vezes nem me dou conta.
Ai senhores, ai senhoras,
Logo o sol no céu desponta!
NONA
Tem a ver com ir em frente
Essa coisa de viver.
A gente olha e, de repente,
Tudo está a acontecer.
DÉCIMA
Devagar se vai ao longe
E com Deus no coração.
Se o hábito não faz o monge,
Tampouco a cruz o cristão.
Iacoe Michaela
Enviado por Iacoe Michaela em 27/06/2017
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